Madeira certificada: saiba por que a matéria-prima oferece verdadeiros benefícios
Certificação do Forest Stewardship Council (FSC) garante sustentabilidade ambiental, social e econômica
Pisos, móveis, obras ou decoração. Em quase todos os cenários de uma residência, a madeira está presente. Por ser uma matéria-prima natural, é uma excelente opção para quem se preocupa com a preservação ambiental aliada à praticidade e ao conforto. Mas, associados ao seu uso, podem vir atos ilegais, como o desmatamento e até o trabalho escravo. Por isso, é fundamental saber qual a origem da madeira que entra na sua casa.
Para diferenciar o processo pelo qual a madeira passa até virar um produto final, foram estabelecidos termos como madeira legal, certificada e ilegal. No Brasil, o FSC (Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal) é uma das entidades envolvidas na certificação das empresas e dos processos que seguem critérios importantes de sustentabilidade. O selo do FSC, que pode ser visto desde nas caixas longa vida dos produtos industrializados (usada para o leite, por exemplo) até nos móveis, é um comprovante de que aquele produto é correto do ponto de vista ambiental, social e econômico.
Classificação
Madeira ilegal: é extraída de forma irregular, pois não respeita as áreas preservadas, as comunidades do entorno e nem o ecossistema dependente dela. Todo o processo ocorre de forma incorreta, com sonegação de impostos, transporte inseguro e risco à saúde de quem trabalha no processo.
Madeira legal: tem as licenças ambientais, mas essas somente regulam a extração no sentido ambiental, deixando de lado as questões sociais, trabalhistas e econômicas. A precária fiscalização permite que empresas licenciadas adotem práticas ilegais. A extração dessa madeira pode degradar a floresta e, dessa forma, não garante um bom desempenho socioambiental da floresta.
Madeira certificada: além das licenças ambientais, deve seguir critérios que garantem a saúde da floresta, das comunidades, dos trabalhadores e da economia do setor. O manejo florestal é pensado de forma que imite o ciclo natural da floresta e possui fiscalização frequente por parte das certificadoras.
Benefícios
Mas, afinal, quem ganha com a madeira certificada? Todos, pois a extração adequada de madeira das florestas evita o desmatamento, que tem relação direta com o aquecimento global.
Segundo o Presidente do FSC Brasil, Marco Lentini, todo o percurso da madeira certificada pode ser acompanhado de trás para frente, o que garante que até o consumidor final seja um fiscal. Todos os produtos autorizados pelas certificadoras vinculadas ao FSC possuem códigos de identificação junto ao selo FSC. Com ele é possível verificar se a certificação é verdadeira e rastrear toda a cadeia de produção daquele item, explica.
Optar por produtos que tenham um dos selos de certificação do FSC significa incentivar a preservação da natureza em todos os sentidos. A madeira certificada garante uma consciência limpa para o consumidor, já que não tem comunidade sendo explorada ou trabalhador escravizado. Também não causa nenhum tipo de desmatamento e não usa produtos químicos transgênicos, afirma Lentini.
Tipos de selos e certificações
As empresas que participam de algum processo para a transformação da madeira podem ter três tipos de certificação, que vale por cinco anos e é auditada anualmente:
Certificação de Manejo Florestal: garante as boas práticas dos produtores que extraem as árvores ou demais produtos de origem florestal, como os óleos e as sementes.
Certificação da Cadeia de Custódia: certifica os procedimentos de quem processa a madeira certificada e a transforma em materiais ou em produtos finais. Aplica-se às serrarias, fabricantes de móveis, designers e gráficas.
Certificação de Madeira Controlada: garante às empresas certificadas quais as madeiras não certificadas que podem ser adquiridas de acordo com os critérios do FSC para uso nos produtos mistos. Tem que atender cinco condições: não ser colhida ilegalmente, não ser de áreas onde houve violação dos direitos civis, não vir de florestas conservadas, não ser extraída de florestas naturais convertidas para plantações e usos não florestais, e não ser de florestas geneticamente modificadas (transgênicas).
Quanto aos selos que podem vir nos produtos, existem três modelos:
FSC 100%: certifica que toda a madeira daquele produto é certificada.
FSC misto: pode conter no máximo 30% de madeira não certificada.
FSC reciclado: para produtos criados a partir de outros certificados.
Sustentabilidade na sua casa
A popularização da certificação tem feito com que cada vez mais empresas se preocupem em atestar a adequação dos seus processos de produção. Na indústria papeleira, na qual a matéria-prima é a celulose que vem das árvores, o selo FSC já é quase um pré-requisito. De uma forma natural, as empresas papeleiras passaram a se certificar e, agora, nem se pensa em entrar para o setor sem estar certificado, esclarece Marco Lentini.
Na indústria moveleira ainda não é tão clara essa preocupação, mas algumas empresas já saem na frente nesse quesito. Esse é o caso da catarinense Butzke, que produz móveis de eucalipto em escala industrial e foi a primeira empresa no Brasil a obter o selo do FSC. De acordo com o presidente da empresa, Guido Otte, o selo FSC traduz exatamente o pensamento da marca. Segundo ele, todos ganham com a madeira certificada, a empresa se torna referência e o consumidor ajuda a evitar o efeito estufa.
Outro exemplo de preocupação ambiental vem do estado de São Paulo, com a Tora Brasil. Com a produção de móveis rústicos, que mantêm as características naturais dos troncos das árvores nas peças de decoração, a empresa tem certificadas todas as etapas da produção com o selo de Cadeia de Custódia. A empresa nasceu da percepção do fundador e designer Cristiano Valle sobre o potencial das madeiras da Amazônia.
Devido ao processo diferenciado de fiscalização e controle da madeira certificada e da baixa adesão das empresas ao processo, o custo dessa madeira ainda é maior do que uma que não tenha o selo. Mesmo que as indústrias que transformam a madeira em produto final não cobrem a mais por ela ser certificada, o custo pela certificação tem que ser incluído na matéria-prima.
Construção sustentável
Além de credenciar as certificadoras que concedem os selos, o FSC Brasil tem o objetivo de fomentar as certificações e o uso dessa madeira. Para isso, uma campanha voltada à construção civil está sendo realizada de forma a aumentar a demanda e fazer com que o uso da madeira certificada seja regra e não exceção nesse mercado. Para Lentini, é o aumento da procura que vai causar o aumento da oferta, e é nisso que trabalha o FSC, na sensibilização desse importante setor.
Não esqueça!
Para consultar a validade e os dados de um selo de certificação do FSC ou saber onde encontrar produtos certificados, acesse info.fsc.org.
Fonte: Revista do ZAP